
Após o assassinato de Gabriela Mariel Silvério, militante do Movimento de Mulheres Olga Benario, um imóvel abandonado no centro de Mauá foi ocupado por integrantes do movimento. A ação, batizada Helenira Preta Vive: por Justiça por Gabriela Mariel, denuncia o feminicídio e cobra políticas públicas efetivas de moradia, proteção e enfrentamento à violência de gênero.
Gabriela foi morta pelo marido na madrugada do último domingo (08/06), no bairro Paranavaí, em Mauá. Ela era mãe solo, pessoa com deficiência, trabalhadora da escala 6×1 e uma das principais articuladoras da atuação do movimento na cidade.
Sua trajetória incluiu a coordenação da Ocupação da Mulher Operária Alceri Maria Gomes da Silva, em São Caetano, e a mobilização por uma Delegacia da Mulher 24 horas em Mauá.
Com sua morte, o ABC atinge a marca de seis feminicídios em 2025 — um aumento de 50% em relação ao mesmo período de 2024.
“Gabriela poderia estar viva”
O Movimento Olga Benario afirma que Gabriela estava na lista de beneficiárias do programa Minha Casa, Minha Vida Entidades, conquistado a partir de outras ocupações organizadas em Mauá. No entanto, a construção das moradias segue sem previsão de início.
“Gabriela poderia estar morando na nossa casa, que deveria ter sido inaugurada no último 8 de março. Talvez estaria viva ainda”, afirma Júlia Calchi, amiga da vítima e coordenadora da ocupação recém-instalada.
Além de moradia, o movimento cobra que o poder público garanta pensão à filha de Gabriela, e que a prefeitura de Mauá ceda um imóvel — promessa de campanha ainda não cumprida pelo prefeito da cidade.
Cortes no orçamento e falhas na rede de proteção
A ocupação também chama atenção para o desmonte de políticas públicas voltadas à proteção das mulheres no estado. Em 2023, o governo de São Paulo cortou 71,6% da verba para Delegacias da Mulher. Das cerca de 140 unidades no estado, apenas 11 funcionam 24 horas. Já em 2024, 96% do orçamento estadual destinado ao enfrentamento da violência de gênero foi congelado.
Gabriela havia recolhido centenas de assinaturas em apoio à criação de uma Delegacia da Mulher 24 horas em Mauá — uma das principais bandeiras da militância local.
“Diante desse cenário, ocupamos pela vida das mulheres. Exigimos justiça por nossa companheira Gabriela Mariel. Ocupamos para que mais mulheres, como ela, possam sair da miséria, do aluguel e de relacionamentos abusivos”, afirma Maria Clara, coordenadora regional do Movimento Olga Benario e da Ocupação Helenira Preta Vive.