A alta do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) autorizado pelo governo vai atingir a saúde financeira principalmente das pequenas e médias indústrias que são as maiores empregadoras. Essa é a análise do empresário José Adolfo Gazabim Simões, segundo vice diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Regional Diadema. O dirigente se referiu ao aumento do tributo como mais uma “paulada” no setor industrial e diz que a medida freia a capacidade de investimento e de inovação do setor.
Em entrevista ao RD Momento Econômico, Simões disse que a parte de inovação, que é a esperança de crescimento para as empresas fica prejudicada com a dificuldade de acesso e o preço do crédito. “Quando a gente fala de desenvolver a indústria, que precisamos de criatividade e inovação o empresário se vê sozinho, porque não se tem nenhuma fonte de financiamento para aprendizado, para novos equipamentos e automação, então o Brasil está ficando para trás pois o crescimento e inovação dependem exclusivamente do esforço individual de cada empresário”, afirma.
Simões comenta que quando se pensa na maior parcela das indústrias, a que emprega quase 70% dos trabalhadores, é a de pequeno e médio porte, cuja capacidade de investimento é limitada. “Então essa (alta do IOF) é mais uma paulada que o empresário do setor industrial sofre, com esse aumento de IOF e essa política restritiva de crédito que só vai fazer o país ficar defasado em relação aos países de primeiro mundo”, destaca.
Para Simões a falta de opções de crédito a custo mais acessível prejudica a competitividade e a empregabilidade do setor industrial. O maior entrave, diz, é a falta de incentivo para a inovação. Se a empresa quer inovar acaba sendo tributada de maneira mais pesada. “Não se tem uma linha de crédito para que se tenha condições de honrar os compromissos. Além da formação de mão de obra, outra coisa importante é a insegurança jurídica que a gente tem vivido; você contrata um empréstimo, mesmo com juros caros, e não sabe o que vai acontecer daqui dois ou três meses. Aí você arma sua cadeia de custos e depois tem uma mudança repentina em tributos”, aponta.
O vice-diretor do Ciesp de Diadema conta que a entidade tem tentado sensibilizar o governo sobre a necessidade de criar um ambiente mais saudável para o setor industrial, como forma de enfrentamento da desindustrialização que o ABC tem sofrido nas últimas décadas. “A manutenção da indústria no ABC depende de inovação, de criatividade dos empresários e de algum apoio do poder público no sentido de transformar as cidades em amigas do empreendedor”, diz o empresário que esteve na última semana com o prefeito Taka Yamauchi (MDB) durante reunião plenária do Ciesp.
Imigrantes
O emedebista trouxe alguns retornos a demandas encaminhadas pelo segmento no início da gestão e Simões elogiou o retorno do governo em poucos dias. “Em 90 dias ele compartilhou essas demandas com os secretários das diversas áreas e já tem grupos de trabalho para debater e trabalhar no que é viável para ser feito, desde segurança jurídica, com propostas de desburocratização do licenciamento ambiental, até de mobilidade para os funcionários da empresas. O prefeito ficou lá por mais de uma hora e 40 minutos e nos deixou uma boa expectativa”, disse o vice diretor, que deve assumir o Ciesp da cidade nos próximos dias com a saída do diretor titular Anuar Dequech Júnior, dentro da rotina de mudança de comando da regional.
Outro avanço do encontro entre os empresários membros do Ciesp e o prefeito Taka Yamauchi foi o anúncio de um novo acesso para a rodovia dos Imigrantes. Hoje a cidade tem dois acessos à rodovia e o novo seria viabilizado com recursos do governo federal. “A gente recebeu a notícia de que está em estágio avançado um projeto executivo que depende da liberação da (concessionária) Ecovias e da Artesp (Agência Reguladora de Transportes Terrestres do Estado de São Paulo), mas já tem até uma verba do PAC para esse projeto, então a gente ganhou uma gota de esperança maior para que saia nesta gestão”, comemora Simões.
Segundo o representante do Ciesp, Diadema tem um parque industrial com mais de 1,5 mil empresas e quase 45 mil empregos gerados e precisa de mais mobilidade para escoamento da produção. “A cidade tem uma condição logística importante pela proximidade com a Imigrantes, com o Rodoanel, com a Anchieta e com a proximidade com o porto, tem facilidade de receber insumos e de escoar a produção dela, mas precisa criar a facilidade para se sair da cidade e o acesso para essas rodovias”, diz.
José Adolfo Gazabim Simões considera que, além do Polo de Cosméticos, do parque industrial voltado à indústria metalmecânica, das indústrias de alimentos e farmacêutica, há espaço para o desenvolvimento de outros arranjos produtivos locais em Diadema, mas para isso é preciso uma integração regional entre as cidades e que o Consórcio Intermunicipal tem de exercer esse protagonismo.
“Os gestores públicos do ABC não apresentam um plano de estado, trabalham só um plano de governo que dura os quatro anos de mandato, então a cada quatro anos, com mudança de gestão a gente está à mercê de uma mudança drástica. O Consórcio Intermunicipal tem um papel importante de trabalhar com o sete municípios para que a gente desenvolva uma visão de longo prazo para a região. Do contrário estaremos sempre à mercê dessas mudanças repentinas. Algumas gestões pensaram somente no comércio. Falta um plano para que as cidades se alinhem em um ponto de convergência em todos os municípios”, completa o empresário.